Este artigo resulta de uma parceria entre o portal Comerciomaquinas.com e o projeto Produtores Florestais, uma iniciativa da The Navigator Company.

A terceira campanha deste programa operacional da CELPA propõe-se intervir em mais de 15 mil hectares de eucaliptal. A limpeza dos terrenos já arrancou, e a fase de adubação terá lugar até início da primavera.

Bento Correia Miranda estava cansado de ver as suas propriedades arder consecutivamente, apesar da limpeza das toiças. E até já tinha decidido não limpar mais os 30 hectares de eucaliptal que herdou com os três irmãos. Foram as conversas com os técnicos da Associação de Silvicultores de Vale do Ave que o fizeram mudar de opinião e aderir ao programa Limpa e Aduba, da CELPA, a Associação da Indústria Papeleira.

“O fornecimento do adubo e o apoio na adubação foram essenciais. Hoje os eucaliptais estão bonitos”, conta, a partir da sua casa, em Santa Cristina do Couto, Santo Tirso. “Eu fiz a limpeza, e o adubo e a aplicação do adubo foram por conta do programa. Isso fez com que eu investisse na floresta”, acrescenta à “Produtores Florestais”, para sublinhar que “as propriedades não ficam livres do fogo, mas, se voltar a acontecer, pelo menos é mais fácil fazer o combate”.

No caso de Paulo Cardoso, foram as dificuldades sentidas com a manutenção dos eucaliptais da família, na região de Águeda e Tondela, que o levaram a aderir ao programa da CELPA. Hoje, destaca não apenas as mudanças visíveis – “no terreno já se nota a diferença na produtividade e crescimento das árvores, e consigo ter acesso a todas as propriedades, o que antes não acontecia” – como o conhecimento adquirido. E exemplifica: “A ficha técnica de cada plantação tem informação muito útil. Por exemplo, eu não sabia qual a data em que algumas plantações tinham sido florestadas pela primeira vez.”

As duas primeiras campanhas do programa Limpa e Aduba permitiram a intervenção em mais de 18 mil hectares de eucalipto de produtores particulares, num total de 2 160 beneficiários.

Objetivo: 100 mil hectares até 2024

Paulo e Bento foram beneficiários das duas primeiras campanhas do programa Limpa e Aduba, que até ao momento já permitiu a intervenção em mais de 18 mil hectares de eucaliptal de produtores particulares, num total de 2 160 beneficiários. “Para a próxima campanha temos o objetivo ambicioso de intervir em 15 mil hectares. E, tal como aconteceu com as duas campanhas anteriores, deve ser atingido!”, congratula-se António Sousa Macedo, o coordenador do programa, lembrando que o objetivo final é ter 100 mil hectares intervencionados até 2024, aproximadamente 25% da área de eucalipto privado de Portugal Continental. Isto apesar das dificuldades acrescidas que a pandemia trouxe à contratação de mão-de-obra.

O “Projeto Melhor Eucalipto” e o programa operacional Limpa e Aduba nasceram da constatação feita pela CELPA de que, “numa amostra representativa de parcelas de eucalipto visitadas durante 5 anos consecutivos, 66% das mesmas não eram alvo de qualquer tipo de intervenção e gestão”, recorda o responsável. Ao dar como contrapartidas à limpeza do terreno o fornecimento do adubo, o apoio na sua aplicação e consultoria técnica ao longo do processo, o programa permite atuar em múltiplas frentes: proteção contra incêndios (redução do risco), produtividade (melhoria do rendimento), transmissão de conhecimento, promoção da gestão e certificação florestal, e uma melhor relação entre a indústria e os seus stakeholders.

“Com uma melhor gestão, vamos conseguir ter mais e melhor madeira, o que permite reduzir o esforço de importação por parte da indústria”, salienta Sousa Macedo. “Tal é conseguido não pelo crescimento da área plantada – interdita por lei – mas também pela maior produtividade das plantações”, explica.

O desenvolvimento do programa é feito em duas fases: a limpeza de matos e seleção de varas (Limpa) que reduzem o risco de propagação de fogo, e a posterior adubação (Aduba) que potencia a produtividade e rendimento.

A importância dos parceiros

O programa Limpa e Aduba abrange, hoje, cinco áreas geográficas: Centro Litoral, Centro Interior, Sul Litoral, Norte Litoral e Oeste, que correspondem a um vasto território nacional, com bom potencial produtivo para a espécie eucalipto e onde predomina o minifúndio.

A atuação dos parceiros da CELPA – associações de produtores florestais, empresas, grupos de certificação, fornecedores de madeira, entre outros –, tem sido essencial, já que são estes que representam e/ou trabalham junto dos proprietários na angariação de candidaturas e na implementação do trabalho de campo.

“Fizemos sessões nas juntas de freguesia, chamámos proprietários, e depois funcionou o passa-palavra”, conta Marlene Pereira, da Associação de Silvicultores de Vale do Ave. A responsável recorda que dominava uma certa desmotivação desde os incêndios de 2017. “O programa foi um incentivo muito importante. Os proprietários sabem que têm de fazer a limpeza e ter uma boa gestão, mas a oferta do adubo e o apoio na sua aplicação ajudou a que não o adiassem”, refere.

No âmbito desta associação, ao longo das duas campanhas, foram contemplados 28 proprietários, o que equivale a 210 hectares. “Para a terceira campanha, continuamos a ter uma boa adesão. Até porque havia interessados que não puderam candidatar-se antes, já que os povoamentos têm de ter pelo menos dois anos”, lembra Marlene Pereira.

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No terreno já se nota a diferença na produtividade e crescimento das árvores”, diz Paulo Cardoso, proprietário que aderiu ao programa.

Já Paulo Almeida, responsável da Unimadeiras, uma sociedade fundada em 1974 que funciona dentro de uma lógica de cooperativa e é outro dos parceiros da CELPA, aponta as vantagens para a certificação trazidas pelo programa. “Desde o início houve uma grande adesão por parte dos nossos fornecedores, e o Limpa e Aduba acabou também por dar um incremento ao processo de certificação”, recorda o responsável da empresa, a qual inclui também o grupo de certificação Unifloresta.

“O programa ajuda a que haja um maior cumprimento dos programas de gestão”, afirma Paulo Almeida, que frisa ainda o crescente interesse provocado pelo Limpa e Aduba junto dos fornecedores da Unimadeiras e dos membros do grupo de certificação: 93 candidaturas na primeira campanha e 256 na segunda, tendo já havido 270 proprietários que mostraram interesse em candidatar-se à terceira.

Uma das ações de campo promovidas pela CELPA, para divulgação do programa junto de proprietários florestais.

Simplicidade é a chave

Tanto a CELPA como as entidades parceiras e os proprietários destacam a simplicidade do processo como uma das razões do sucesso do programa. Paulo Cardoso, que já tinha concorrido a outros apoios, confessa que ficou surpreendido com a simplicidade e rapidez associadas ao Limpa e Aduba. E o mesmo destaca Bento Correia Miranda, para quem o facto de ser o parceiro – no seu caso, a associação de silvicultores – a tratar de tudo, é outro dos aspetos positivos. “Eu já conhecia os técnicos da associação e foi tudo feito numa base de confiança”, assume.

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As propriedades não ficam livres do fogo, mas, se voltar a acontecer, pelo menos é mais fácil fazer o combate”, sublinha o produtor Bento Correia Miranda.

Um eucaliptal antes e depois da limpeza de matos. Esta operação não só diminui a carga combustível que propaga o fogo, como facilita a circulação de pessoas e máquinas na floresta.