NOTICÍA

Testemunho dos players do mercado de tratores agrícolas em Portugal - Samuel Caniço, gerente da BCS Portugal

25 Jan 2023

Ao longo dos próximos dias iremos publicar as respostas que os principais players do mercado de tratores agrícolas nos deram no seguimento de um inquérito sobre a evolução do mercado em Portugal.

 

Por ordem de recepção, iniciamos o trabalho com a publicação das respostas dadas por Samuel Caniço, gerente da BCS Portugal, que integra as marcas Ferrari e BCS vendidas no nosso país.

 

Esta sequência de artigos culminará com a publicação de uma reportagem global com todo o panorama do mercado de tratores em Portugal, incluindo as estatísticas de vendas de 2022.

 

CM - Que balanço faz do mercado nacional de tratores agrícolas em 2022? Alcançou os objetivos para as suas marcas?

SC - Sim, os nossos objetivos foram plenamente alcançados.

 

É inegável, no entanto, que o ano 2022 foi um ano atípico e desafiante, tal como já o tinha sido o ano 2021, pelos motivos que todos conhecemos. No ano 2022 ainda sofremos fortemente as consequências causadas pelo impacto da pandemia, aliados a um surpreendente aumento exponencial da procura, que não foi eficazmente acompanhada pelo acesso aos fatores de produção, penalizados não só, pelo seu forte aumento dos preços, mas também pela sua escassez, a que assistimos nos últimos tempos, criando, não só grandes problemas nos prazos de entrega, como nas expetativas de adequação a um novo mercado, gerado pela obrigação de cumprimento de novas normativas e a uma nova realidade na procura.

 

Ainda assim, e isso é fruto de um sector altamente profissional e dinâmico, a maioria das marcas conseguiu reajustar-se, procurar novas estratégias e renovar processos, o que levou a um resultado global final, bastante interessante e positivo, não só em Portugal, mas também em toda a Europa.

 

CM - Apesar de todas as incertezas, o que espera do mercado de tratores agrícolas em 2023?

SC - Creio que temos todos de estar bem cientes que este ano será, sem dúvida, um ano de grande incerteza. Agora que saíamos lentamente duma fase difícil como a provocada pela pandemia, assistimos a uma guerra na Europa, com consequências económicas e sociais ainda difíceis de prever e que sem dúvida influenciarão fortemente a realidade económica a que assistiremos não só em 2023, mas também nos anos seguintes. Creio que a resposta, estará na forma como os vários governos poderão implementar medidas que injetem confiança nos mercados de uma forma concertada e que crie alguma segurança no consumo e investimento em todos os sectores transversais da economia.

 

Apesar de tudo, sabemos que as dificuldades também geram oportunidades que podem ser exploradas. Um mercado de maiores riscos leva normalmente a uma maior racionalização dos recursos e a procura de novos caminhos, o que para marcas especializadas, como as nossas pode trazer algum benefício. Os tratores isodiamétricos têm tido algumas dificuldades no nosso país, não só, por motivos culturais, mas também, e principalmente, por um sector agrícola, até há alguns anos, dominado por culturas tradicionais e métodos de produção também tradicionais. Esse é um paradigma que está a mudar, o aparecimento de novos métodos de produção, novas culturas, produtores com maior acesso à informação e mais abertos à exploração de novos caminhos, tem levado a escolhas de mecanização mais racionais, mais adequadas às culturas e métodos que exploram. Desta forma, procuram e entendem que os tratores que utilizem, devem ter as características certas para o trabalho que desenvolvem, já não se compra um trator, porque todos compram “aquele” trator, há uma maior ponderação e racionalização na compra. Isso tem sido benéfico para as nossas marcas, muitas vezes mais adequadas a certas culturas que os tradicionais tratores convencionais. Obviamente, continuamos a ser uma marca de nichos de mercado bem definidos, e claramente, é aí que que queremos continuar a atuar.

 

Sabemos que o mercado em 2023 vai ser desafiante, mas também estimulante, e no nosso caso, continuamos com a mesma ambição de sempre, com objetivos bem definidos e com a crença que vamos ter um ano com resultados bastante positivos.  

 

CM - Como estão as suas marcas/empresa a atuar para dar a melhor resposta ao mercado em 2023?

SC - A nossa estratégia para 2023, a nível interno, será uma continuação das medidas que já vimos a implementar nos últimos anos, racionalização da nossa rede de distribuição, inovar nos processos de comunicação com os nossos concessionários, tanto nas campanhas promocionais, como na assistência pós-venda, e mostrar cada vez mais ao mercado que o nosso produto é um produto fiável, eficaz e adequado às necessidades de uma agricultura moderna. Este é um processo contínuo e em constante mutação que nos leva a estar bem atentos e entusiasmados com o caminho a seguir.

 

Numa estratégia global internacional, o grupo BCS, tem feito uma clara aposta na pesquisa de mercado, adequando a oferta à procura, em cada mercado e sector em que atuamos. Isso tem determinado algumas mudanças, essencialmente em produto, com novos motores, tratores com novo desenho, nova ergonomia e novas soluções técnicas que cada vez mais vão de encontro às necessidades especificas de cada mercado. Isto tem levado ao aparecimento de novos modelos, alguns especificamente para mercados como a América latina, mas também para a Europa, com alguns modelos a surgirem já durante o ano de 2023, que com certeza, contribuirão para a nossa estratégia de crescimento esperado.