Ao longo dos próximos dias iremos publicar as respostas que os principais players do mercado de tratores agrícolas nos deram no seguimento de um inquérito sobre a evolução do mercado em Portugal.
Por ordem de recepção, iniciamos o trabalho com a publicação das respostas dadas por Samuel Caniço, gerente da BCS Portugal, que integra as marcas Ferrari e BCS vendidas no nosso país.
Esta sequência de artigos culminará com a publicação de uma reportagem global com todo o panorama do mercado de tratores em Portugal, incluindo as estatísticas de vendas de 2022.
CM - Que balanço faz do mercado nacional de tratores agrícolas em 2022? Alcançou os objetivos para as suas marcas?
SC - Sim, os nossos objetivos foram plenamente alcançados.
É inegável, no entanto, que o ano 2022 foi um ano atípico e desafiante, tal como já o tinha sido o ano 2021, pelos motivos que todos conhecemos. No ano 2022 ainda sofremos fortemente as consequências causadas pelo impacto da pandemia, aliados a um surpreendente aumento exponencial da procura, que não foi eficazmente acompanhada pelo acesso aos fatores de produção, penalizados não só, pelo seu forte aumento dos preços, mas também pela sua escassez, a que assistimos nos últimos tempos, criando, não só grandes problemas nos prazos de entrega, como nas expetativas de adequação a um novo mercado, gerado pela obrigação de cumprimento de novas normativas e a uma nova realidade na procura.
Ainda assim, e isso é fruto de um sector altamente profissional e dinâmico, a maioria das marcas conseguiu reajustar-se, procurar novas estratégias e renovar processos, o que levou a um resultado global final, bastante interessante e positivo, não só em Portugal, mas também em toda a Europa.
CM - Apesar de todas as incertezas, o que espera do mercado de tratores agrícolas em 2023?
SC - Creio que temos todos de estar bem cientes que este ano será, sem dúvida, um ano de grande incerteza. Agora que saíamos lentamente duma fase difícil como a provocada pela pandemia, assistimos a uma guerra na Europa, com consequências económicas e sociais ainda difíceis de prever e que sem dúvida influenciarão fortemente a realidade económica a que assistiremos não só em 2023, mas também nos anos seguintes. Creio que a resposta, estará na forma como os vários governos poderão implementar medidas que injetem confiança nos mercados de uma forma concertada e que crie alguma segurança no consumo e investimento em todos os sectores transversais da economia.
Apesar de tudo, sabemos que as dificuldades também geram oportunidades que podem ser exploradas. Um mercado de maiores riscos leva normalmente a uma maior racionalização dos recursos e a procura de novos caminhos, o que para marcas especializadas, como as nossas pode trazer algum benefício. Os tratores isodiamétricos têm tido algumas dificuldades no nosso país, não só, por motivos culturais, mas também, e principalmente, por um sector agrícola, até há alguns anos, dominado por culturas tradicionais e métodos de produção também tradicionais. Esse é um paradigma que está a mudar, o aparecimento de novos métodos de produção, novas culturas, produtores com maior acesso à informação e mais abertos à exploração de novos caminhos, tem levado a escolhas de mecanização mais racionais, mais adequadas às culturas e métodos que exploram. Desta forma, procuram e entendem que os tratores que utilizem, devem ter as características certas para o trabalho que desenvolvem, já não se compra um trator, porque todos compram “aquele” trator, há uma maior ponderação e racionalização na compra. Isso tem sido benéfico para as nossas marcas, muitas vezes mais adequadas a certas culturas que os tradicionais tratores convencionais. Obviamente, continuamos a ser uma marca de nichos de mercado bem definidos, e claramente, é aí que que queremos continuar a atuar.
Sabemos que o mercado em 2023 vai ser desafiante, mas também estimulante, e no nosso caso, continuamos com a mesma ambição de sempre, com objetivos bem definidos e com a crença que vamos ter um ano com resultados bastante positivos.
CM - Como estão as suas marcas/empresa a atuar para dar a melhor resposta ao mercado em 2023?
SC - A nossa estratégia para 2023, a nível interno, será uma continuação das medidas que já vimos a implementar nos últimos anos, racionalização da nossa rede de distribuição, inovar nos processos de comunicação com os nossos concessionários, tanto nas campanhas promocionais, como na assistência pós-venda, e mostrar cada vez mais ao mercado que o nosso produto é um produto fiável, eficaz e adequado às necessidades de uma agricultura moderna. Este é um processo contínuo e em constante mutação que nos leva a estar bem atentos e entusiasmados com o caminho a seguir.
Numa estratégia global internacional, o grupo BCS, tem feito uma clara aposta na pesquisa de mercado, adequando a oferta à procura, em cada mercado e sector em que atuamos. Isso tem determinado algumas mudanças, essencialmente em produto, com novos motores, tratores com novo desenho, nova ergonomia e novas soluções técnicas que cada vez mais vão de encontro às necessidades especificas de cada mercado. Isto tem levado ao aparecimento de novos modelos, alguns especificamente para mercados como a América latina, mas também para a Europa, com alguns modelos a surgirem já durante o ano de 2023, que com certeza, contribuirão para a nossa estratégia de crescimento esperado.
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